quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Impossível


 Impossível

Sozinho não posso carregar um piano e menos ainda um cofre-forte. Como poderia então retomar de ti meu coração e carregá-lo de volta? Os banqueiros dizem com razão: “Quando nos faltam bolsos, nós que somos muitíssimo ricos, guardamos o dinheiro no banco”. Em ti depositei meu amor, tesouro encerrado em caixa de ferro, e ando por aí como um Creso contente. É natural, pois, quando me dá vontade, que eu retire um sorriso, a metade de um sorriso ou menos até e indo com as donas eu gaste depois da meia-noite uns quantos rublos de lirismo à toa.

 Vladimir Maiakovski

Tu



 Tu

 Entraste. A sério, olhaste a estatura, o bramido e simplesmente adivinhaste: uma criança. Tomaste, arrancaste-me o coração e simplesmente foste com ele jogar como uma menina com sua bola. E todas, como se vissem um milagre, senhoras e senhorias exclamaram: - A esse amá-lo? Se se atira em cima, derruba a gente! Ela, com certeza, é domadora! Por certo, saiu duma jaula! E eu júbilo esqueci o julgo. Louco de alegria saltava como em casamento de índio, tão leve, tão bem me sentia.

 Vladimir Maiakovski

Não acabarão nunca com o amor


 Não acabarão nunca com o amor

 Não acabarão nunca com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente.

 Vladimir Maiakovski

O que aconteceu


O que aconteceu

Mais do que é permitido, mais do que é preciso, como um delírio de poeta sobrecarregando o sonho: a pelota do coração tornou-se enorme, enorme o amor, enorme o ódio. Sob o fardo, as pernas vão vacilantes. Tu o sabes, sou bem fornido, entretanto me arrasto, apêndice do coração, vergando as espáduas gigantes. Encho-me dum leite de versos e, sem poder transbordas, encho-me mais e mais.

 Vladimir Maiakovski

A Esperança


 A Esperança

  Injeta sangue no meu coração, enche-me até o bordo das veias! Mete-me no crânio pensamentos! Não vivi até o fim o meu bocado terrestre , sobre a terra não vivi o meu bocado de amor. Eu era gigante de porte, mas para que este tamanho? Para tal trabalho basta uma polegada. Com um toco de pena, eu rabiscava papel, num canto do quarto, encolhido, como um par de óculos dobrado dentro do estojo. Mas tudo que quiserdes eu farei de graça: esfregar, lavar, escovar, flanar, montar guarda. Posso, se vos agradar, servir-vos de porteiro. Há, entre vós, bastante porteiros? Eu era um tipo alegre, mas que fazer da alegria, quando a dor é um rio sem vau? Em nossos dias, se os dentes vos mostrarem não é senão para vos morder ou dilacerar. O que quer que aconteça, nas aflições, pesar... Chamai-me! Um sujeito engraçado pode ser útil. Eu vos proporei charadas, hipérboles e alegorias, malabares dar-vos-ei em versos. Eu amei... mas é melhor não mexer nisso. Te sentes mal?

Vladimir Maiakovski















Quem for louco que volte


 Quem for louco que volte

 Vida e morte amor e dúvida dor e sorte quem for louco que volte.

Mário Quintana