quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012



Se amar....
é querer bem a uma pessoa...

Eu te Amo.

Se amar....
é ter carinho por alguém...

Eu te Amo.

Se amar....
é sentir falta de alguém...

Eu te Amo.

Se amar....
é chorar...
como choro por você...

Eu te Amo.

Se amar....
é ter que se sujeitar a ser tratada com frieza...

Eu te Amo.

Se amar....
é estar presente mesmo se sentindo ausente...

Eu te Amo.

ou ir na caixa de correio para ver se tem algum e-mail endereçado a mim vindo de você...

Eu te Amo.

Se amar....
é se submeter...
a indiferença...
da outra pessoa...

Eu te Amo.

Amor ardente


Amor ardente



Quero um amor ardente
Muito fogo e chama
Exclamar diante da mulher amada
Que a quero sempre.

E nas noites estreladas
Quero encontrar as mais lindas palavras
E dizer no ouvido:
Fica comigo!

Quero fazê-la sonhar
E que nesse sonho!
Eu seja o seu príncipe.

Quero fazê-la amar
E que, em cada carícia
Eu a faça delirar.



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Em Mim



 Em Mim

Paro à beira de mim e me debruço…
Abismo… E nesse abismo o Universo,
Com seu tempo e seu ’spaço, é um astro, e nesse
Alguns há, outros universos, outras
Formas do Ser com outros tempos, ’spaços
E outras vidas diversas desta vida…
O espírito é outra estrela… O Deus pensável
É um sol… E há mais Deuses, mais ’spíritos
De outras essências de Realidade…
E eu precipito-me no abismo, e fico
Em mim… E nunca desço… E fecho os olhos
E sonho — e acordo para a Natureza…
Assim eu volto a mim e à Vida…
Deus a si próprio não se compreende.
Sua origem é mais divina que ele,
E ele não tem a origem que as palavras
Pensam fazer pensar…
O abstrato Ser [em sua] abstrata idéia
Apagou-se, e eu fiquei na noite eterna.
Eu e o Mistério — face a face… 

Fernando  Pessoa

Meu pensamento


Meu pensamento

Meu pensamento é um rio subterrâneo.
Para que terras vai e donde vem?
Não sei… Na noite em que o meu ser o tem
Emerge dele um ruído subitâneo
De origens no Mistério extraviadas
De eu compreendê-las…, misteriosas fontes
Habitando a distância de ermos montes
Onde os momentos são a Deus chegados…
De vez em quando luze em minha mágoa,
Como um farol num mar desconhecido,
Um movimento de correr, perdido
Em mim, um pálido soluço de água…
E eu relembro de tempos mais antigos
Que a minha consciência da ilusão
Águas divinas percorrendo o chão
De verdores uníssonos e amigos,
E a idéia de uma Pátria anterior
A forma consciente do meu ser
Dói-me no que desejo, e vem bater
Como uma onda de encontro à minha dor.
Escuto-o… Ao longe, no meu vago tato
Da minha alma, perdido som incerto,
Como um eterno rio indescoberto,
Mais que a idéia de rio certo e abstrato…
E p’ra onde é que ele vai, que se extravia
Do meu ouvi-lo? A que cavernas desce?
Em que frios de Assombro é que arrefece?
De que névoas soturnas se anuvia?
Não sei… Eu perco-o… E outra vez regressa
A luz e a cor do mundo claro e atual,
E na interior distância do meu Real
Como se a alma acabasse, o rio cessa… 

Fernando Pessoa





segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Grandes mistérios habitam…


Grandes mistérios habitam…

Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está.
Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz. 

Fernando Pessoa

Abismo


Abismo

Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando —
O que é ser-rio, e correr?
O que é está-lo eu a ver?
                Sinto de repente pouco,
                Vácuo, o momento, o lugar.
                Tudo de repente é oco —
                Mesmo o meu estar a pensar.
                Tudo — eu e o mundo em redor —
                Fica mais que exterior.
Perde tudo o ser, ficar.
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus.
                E súbito encontro Deus. 

Fernando Pessoa