terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O quarto em desordem.




O quarto em desordem.

Na curva perigosa dos cinquenta

derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não se sabe como é feita: amor,

na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui

nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,

verdade tão final, sede tão vária,

e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.

Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário:

Postar um comentário